A reconciliação possível: Cid e Ciro podem estar preparando terreno para reaproximação política?
Por trás do silêncio estratégico, sorrisos contidos e falas calculadas, algo parece se mover no clã Ferreira Gomes. E os sinais estão por toda parte — para quem quiser (e souber) enxergar.
Nos últimos dias, Cid Gomes foi visto ao lado do irmão Ciro e de Tasso Jereissati — uma tríade que, até pouco tempo, parecia improvável de se reunir, ao menos publicamente. O gesto, discreto, mas simbólico, já foi suficiente para acender o sinal amarelo em algumas alas do PT no Ceará. Porque, convenhamos: quem aparece com Tasso, acena ao centro. E quem aparece com Ciro, ainda reconhece nele alguma força política.
A cereja do bolo veio com o deputado federal Júnior Mano, apadrinhado por Cid e cotado como seu nome ao Senado em 2026, ao elogiar publicamente Ciro Gomes — um movimento impensável há alguns meses, quando o PDT cearense ainda ardia em fogo amigo e Cid buscava consolidar sua nova base com Elmano.
Foi só um elogio? Talvez. Mas em política, até um sorriso pode ser um recado.
Prefeitos do PSB já estão recalculando a rota
Outro ponto que deve ser observado com atenção: prefeitos e lideranças do PSB cearense — aliados diretos de Cid — já começam a ver a candidatura de Ciro Gomes ao Governo do Ceará como "mais viável" do que outras opções colocadas na mesa. E aqui entra uma variável essencial: a força eleitoral de Ciro no interior ainda assusta.
Mesmo machucado politicamente, com uma imagem desgastada no plano nacional, Ciro ainda é, para muitos prefeitos, um nome que agrega voto, puxa palanque e fala diretamente com o eleitorado. E na prática, quem tem voto, tem valor.
Essa reavaliação silenciosa por parte dos prefeitos, somada aos gestos públicos e aos elogios indiretos, reforça a tese de que Cid pode estar, sim, preparando uma reaproximação com o irmão. Se será total ou apenas pragmática, ainda é cedo para dizer. Mas o movimento está em curso.
Os irmãos Lia e Ivo Gomes parecem se manter firmes no campo do irmão mais velho, tanto em lealdade pessoal quanto em discurso político. Ivo, ex-prefeito de Sobral — berço político do clã, tem forte ascendência sobre as bases na região norte. Lia, apesar de perfil mais discreto, tem peso decisivo nas decisões familiares e políticas.
Elmano e o PT: alerta ligado
Para o Palácio da Abolição, essa movimentação pode ser lida como um risco. Afinal, o palanque governista se fortalece com Cid, mas enfraquece se ele voltar a alinhar-se com Ciro — ainda que informalmente. Elmano de Freitas sabe que parte da sua governabilidade no interior passa pelo capital político de Cid. E se esse capital começar a pender de novo para Ciro, os planos para o Governo e até para a própria reeleição podem ser afetados.
O futuro: pragmatismo ou reconciliação?
Resta saber o que motiva essa possível reaproximação.
É um gesto sincero de reconciliação familiar e política?
Ou um cálculo pragmático, que enxerga em Ciro ainda um ativo importante na disputa pelo governo estadual?
Talvez seja um pouco dos dois. E, nesse caso, quem ganha é o grupo político dos Ferreira Gomes, que pode voltar a operar com mais unidade — mesmo que disfarçada.
há costura política. E tudo indica que o fogo que antes parecia ter consumido os laços entre Cid e Ciro, talvez tenha sido apenas uma brasa mal apagada — que agora, aquecida pelas circunstâncias, pode reacender um grupo que ainda tem muito fôlego para influenciar os rumos do Ceará.
Em política, reconciliações não costumam ser anunciadas em discursos — elas são costuradas em jantares discretos, elogios inesperados e fotos cuidadosamente vazadas. E todas essas peças já estão no tabuleiro.
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